Aí está mais uma controvérsia no país dos auto-denominados supra-sumo de todas as virtudes humanas (e quiçá sobre-humanas) possíveis e imaginárias! Desta vez o governo francês pretende levar a cabo uma nova lei da imigração que inclui a realização de testes genéticos para aferir as linhas de parentesco dos candidatos a imigrantes que já possuem família a viver em França.
A ideia é particularmente desconfortável, segundo alguns, por relembrar o governo colaboracionista Vichy aquando da ocupação Nazi, e até mesmo alguns elementos do próprio governo de N. Sarkozy já manifestaram o seu descontentamento (para além daquela oposição que não perde a oportunidade de o fazer, independentemente da situação).
No entanto acho particularmente curiosa a posição do Presidente francês que perante os ataques se limita a um lacónico: “É preciso ter calma...”, assim como argumentos usados como arma de arremesso por políticos de “esquerda” franceses, tais como: “Isto é uma afronta aos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade!”
O que é de louvar no Presidente francês é o facto de ter deixado o cinismo de parte e não ter tido pejo em demonstrar nua e cruamente ao mundo que ideais como esses são só (e sempre foram) para quem fosse francês. Os outros não interessam nem nunca interessaram para este tipo de assunto. É uma verdade feia, mas ela aí está para comum vislumbre.
Portanto quando Françoise Hostalier, deputada no parlamento, declara que esta lei é “contrária aos nossos valores republicanos e à nossa ética francesa”, tal significa precisamente o contrário. Para além da lei ser bonita ou feia, boa ou má, justa ou injusta, manifesta em pleno a essência do que significa ser francês para o “(in) comum” francês: “sou um cidadão de primeira, falo uma língua cada vez mais moribunda apesar de nunca o admitir [confesso que me dá prazer ver o espanhol a passar-lhes à frente enquanto língua preferencial em cada vez mais escolas europeias], sou iluminado intelectualmente e já agora brado aos sete ventos que sou bastante bom na cama para me ajudar a viver em negação porque na verdade tenho um órgão reprodutor diminuto; os outros seres inferiores só servem para nos prestar vassalagem, lavar-nos as escadas e servir às mesas”.
Agora o problema surge quando os “outros” representam 30% da população francesa... o que faz com que se altere o discurso para algo do género, resmordido pelo meio de um sorriso cínico: “vamos lá esconder o busto do Le Pen debaixo da cama e fingir que consideramos estes argelinos a tresandar a refogado de cous-cous e estes senegaleses cheios de óleo de amendoím como franceses legítimos, apesar de o que “ser francês” realmente significa para todos nós, e protestar ao lado deles, antes que se amotinem e nos incendeiem a Torre Eiffel”.
Já agora convém sublinhar que este tipo de exame ao DNA já existe em 11 países europeus, incluindo no Reino Unido, e que o único argumento válido contra esta emenda em França reside na noção constitucional de família francesa que não se resume no sangue, mas no reconhecimento. O resto é desespero na ocultação da verdade antes que esta se generalize ainda mais.
Art. 1º — Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2º — Fica proibido, a partir desta data, o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência.
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