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Arena de degladiação de raciocínios
domingo, outubro 14, 2007
Francesismos

Aí está mais uma controvérsia no país dos auto-denominados supra-sumo de todas as virtudes humanas (e quiçá sobre-humanas) possíveis e imaginárias! Desta vez o governo francês pretende levar a cabo uma nova lei da imigração que inclui a realização de testes genéticos para aferir as linhas de parentesco dos candidatos a imigrantes que já possuem família a viver em França.
A ideia é particularmente desconfortável, segundo alguns, por relembrar o governo colaboracionista Vichy aquando da ocupação Nazi, e até mesmo alguns elementos do próprio governo de N. Sarkozy já manifestaram o seu descontentamento (para além daquela oposição que não perde a oportunidade de o fazer, independentemente da situação).
No entanto acho particularmente curiosa a posição do Presidente francês que perante os ataques se limita a um lacónico: “É preciso ter calma...”, assim como argumentos usados como arma de arremesso por políticos de “esquerda” franceses, tais como: “Isto é uma afronta aos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade!”
O que é de louvar no Presidente francês é o facto de ter deixado o cinismo de parte e não ter tido pejo em demonstrar nua e cruamente ao mundo que ideais como esses são só (e sempre foram) para quem fosse francês. Os outros não interessam nem nunca interessaram para este tipo de assunto. É uma verdade feia, mas ela aí está para comum vislumbre.
Portanto quando Françoise Hostalier, deputada no parlamento, declara que esta lei é “contrária aos nossos valores republicanos e à nossa ética francesa”, tal significa precisamente o contrário. Para além da lei ser bonita ou feia, boa ou má, justa ou injusta, manifesta em pleno a essência do que significa ser francês para o “(in) comum” francês: “sou um cidadão de primeira, falo uma língua cada vez mais moribunda apesar de nunca o admitir [confesso que me dá prazer ver o espanhol a passar-lhes à frente enquanto língua preferencial em cada vez mais escolas europeias], sou iluminado intelectualmente e já agora brado aos sete ventos que sou bastante bom na cama para me ajudar a viver em negação porque na verdade tenho um órgão reprodutor diminuto; os outros seres inferiores só servem para nos prestar vassalagem, lavar-nos as escadas e servir às mesas”.
Agora o problema surge quando os “outros” representam 30% da população francesa... o que faz com que se altere o discurso para algo do género, resmordido pelo meio de um sorriso cínico: “vamos lá esconder o busto do Le Pen debaixo da cama e fingir que consideramos estes argelinos a tresandar a refogado de cous-cous e estes senegaleses cheios de óleo de amendoím como franceses legítimos, apesar de o que “ser francês” realmente significa para todos nós, e protestar ao lado deles, antes que se amotinem e nos incendeiem a Torre Eiffel”.
Já agora convém sublinhar que este tipo de exame ao DNA já existe em 11 países europeus, incluindo no Reino Unido, e que o único argumento válido contra esta emenda em França reside na noção constitucional de família francesa que não se resume no sangue, mas no reconhecimento. O resto é desespero na ocultação da verdade antes que esta se generalize ainda mais.

2 Comments:
Blogger Scipio said...
"O que é de louvar no Presidente francês é o facto de ter deixado o cinismo de parte e não ter tido pejo em demonstrar nua e cruamente ao mundo que ideais como esses são só (e sempre foram) para quem fosse francês. Os outros não interessam nem nunca interessaram para este tipo de assunto"

Touché mon ami!

Não conseguia parar de rir enquanto lia este post...

Há um problema. Sarkozy não passaria no este a 100%, dadas as suas raízes judaico-magiares. havia de ser engraçado,...